SÍMBOLO CAMALDOLENSE
O símbolo camaldolense é constituído por duas pombas que bebem do mesmo cálice. Acima do cálice é colocada uma estrela, e abaixo uma pequena faixa com a escrita Ego vobis, vos mihi – Eu para vocês, vocês para mim.
O símbolo atual possui uma longa história, antes de chegar a ser utilizado como símbolo da comunidade monástica camaldolense e, por isso, guarda em si vários níveis de significado. Em âmbito cristão o primeiro testemunho desse símbolo encontra-se no Mausoléu de Galla Placídia em Ravenna (séc. V), antiga cidade romana que guarda profundos influxos gregos na própria arte.
O conjunto das decorações do Mausoléu, descreve a vida da comunidade cristã através de vários símbolos e alegorias da natureza (estrelas, aves, animais, flores) além da Bíblia. Por isso, acredita-se que a cena das duas aves voando para beber à fonte de água viva, represente os fiéis que vão beber a água do Espírito de Cristo no Batismo.
No século XII os elementos fundamentais deste símbolo aparecem no selo do Prior de Camaldoli. Uma primeira referência já se encontrava num antigo código da Biblioteca do Sacro Eremitério de Camaldoli, com a figura de dois pavões, símbolo da eternidade.
Pouco mais tarde o símbolo aparece em muitos códigos e estruturas arquitetônicas dos mosteiros e eremitérios camaldolenses com o texto “Eu para vocês, vocês para mim”, que é o resumo da fórmula usada no Deuteronômio, e sobretudo pelos profetas Jeremias e Ezequiel, para exprimir a “aliança nupcial” entre o Senhor Deus e o povo de Israel escolhido como sua esposa amada com amor fiel e misericordioso (cf Os 2,1-25): “Eu, Deus para vocês, vocês, povo para mim”.
O texto quer lembrar também, o dom da aliança que o Senhor guarda apesar da infidelidade da esposa, e o reconhecimento da intimidade estabelecida por Deus com seu povo.
A partir do século XII novas interpretações desse símbolo foram adaptadas à vida monástica camaldolense:
1- Aquele que é chamado à vida monástica recebe o dom e a vocação à intimidade do amor com o Senhor, sendo esse chamado e dom, o próprio cerne e alvo da vida contemplativa cristã. O monge e a monja alcançam essa promessa, bebendo cada dia o cálice do Senhor na celebração eucarística, memorial sacramental da sua Páscoa e do seu amor.
2- A vida monástica camaldolense possui duas formas, relacionadas uma à outra, na comunhão da caridade, e complementares entre elas: a vida eremítica e vida comunitária. Cada uma, e as duas juntas, recebem a capacidade do amor recíproco ao beber do amor do Senhor partilhado no cálice da Eucaristia. A estrela indica a origem divina deste amor.