O símbolo é constituído por duas pombas que bebem do mesmo cálice, e embaixo delas está uma pequena faixa com a escrita latina “ Ego vobis, vos mihi”. Em cima do cálice é colocada uma estrela.
O símbolo atual tem uma longa história antes de chegar a ser utilizado como símbolo da comunidade monástica camaldolense e, por isso, guarda em si mesmo vários níveis de significado.
Em âmbito cristão o primeiro testemunho o encontramos no chamado” Mausoleo di Galla Placídia” em Ravenna(séc.V), antiga cidade romana que guarda profundos influxos gregos na própria arte.
O conjunto das decorações musivas do Mausoleo, que se referem à vida da comunidade cristã através de vários símbolos e alegorias da natureza (estrelas,aves,animais,flores) e da bíblia, induz a interpretar a cena das duas aves voando para beber à fonte de água viva, como símbolo dos fiéis que vão beber a água do Espírito de Cristo no Batismo.
No século XII os elementos fundamentais deste símbolo aparecem no selo do Prior de Camáldoli: duas pombas bebendo do cálice. Uma primeira referência já encontrava-se num antigo código da Biblioteca do S.Eremo de Camáldoli, com a figura de dois pavões, símbolo da eternidade.
Pouco mais tarde o símbolo aparece em muitos códigos e estruturas arquitetônicas dos mosteiros e eremitérios camaldolenses, enriquecido por outro elemento embaixo do cálice: a faixa tendo as palavras bíblicas “Ego vobis, Vos mihi” – “ Eu para vocês, Vocês para mim”. O texto na realidade é o resumo da fórmula usada na Escritura (cf Dt 26,16-17), sobretudo pelos profetas Jeremias (cf 30,22; 31,31) e Ezequiel (cf 11,19-20), para exprimir a “aliança nupcial” entre o Senhor Deus e o povo de Israel, escolhido como sua esposa amada com amor fiel e misericordioso (cf Os 2,1-25): “Eu Deus para vocês, vocês povo para mim”
O assunto central do texto citado é o dom da aliança que o Senhor guarda além da infidelidade da esposa, e o da intimidade estabelecida por Deus com seu povo.
Os escritores camaldolenses, desde o século XII, tem divulgado novas interpretações do mesmo símbolo, adaptada à vida monástica camaldolense.
1- o monge, a monja, chamado/a por Deus a segui-lo na vida monástica, recebe o dom e a vocação à intimidade do amor com Ele. Este chamado e este dom são o próprio cerne e alvo da vida contemplativa cristã e monástica. Intimidade a ser guardada e cultivada. O monge monja com efeito a atinge bebendo cada dia ao cálice do Senhor na celebração eucarística,memorial sacramental da sua Páscoa, isso é do seu amor.
2- a vida monástica camaldolense tem duas formas, relatadas uma à outra na comunhão da caridade e complementares entre elas na reciprocidade: vida eremítica na solidão do eremitério (para os monges) e vida cenobítica nos mosteiros. Cada uma, e as duas juntas, recebem a capacidade do amor recíproco ao beber do amor do Senhor partilhado no cálice da Eucaristia. A estrela indica a origem divina deste amor.
Unidade na diversidade. Unitária no objetivo, pluralista nas suas expressões. Esta é a tradição monástica camaldolense e o seu dom pelos homens e as mulheres hoje. Dom e desafio.
A recíproca comunhão fraterna constitui o testemunho visível da aliança do Senhor , profetizada no primeiro testamento e realizada na sua plenitude na morte e ressurreição de Jesus.
O monge e a monja são chamados a viver em si mesmos este mistério do amor divino pela graça do Senhor e a testemunha-lo.
Como nos lembra também a recente Conferência dos bispos da América Latina e do Caribe na Aparecida (2007), “todo discípulo é missionário, pois Jesus o faz partícipe da sua missão, ao mesmo tempo que o vincula a Ele como amigo e irmão….Cumprir essa missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã, porque é extensão testemunhal da vocação mesma” (Doc. Aparecida n. 144).