No nascimento de toda aventura espiritual autêntica
há uma relação transformante com Cristo
(D. Emanuele Bargellini)
Os camaldolenses vivem uma síntese do monaquismo missionário e peregrino da Inglaterra e da Alemanha que evangelizou a Europa, conjugando-o com o monaquismo cenobítico, mais estável e baseado na agricultura de São Bento. Ao mesmo tempo em que associa este estilo de vida à recuperação da vida eremítica da tradição monástica antiga do Oriente.
Assim, a proposta monástica camaldolense congrega um estilo de vida aberto a diferentes formas de vida monástica: vida comunitária, vida eremítica, empenho missionário.
O monarquismo camaldolense feminino e as suas origens
As monjas ocupam uma bela página na história do monaquismo camaldolense. Já nos primeiros tempos da congregação, São Romualdo fundou vários mosteiros femininos.
Na tradição camaldolense podem haver mosteiros irmãos, como é o caso no Brasil, em que monges e monjas, mantendo independência recíproca, constituem uma “comunidade irmã” na qual compartilham em fraternidade, a Liturgia das Horas, a Lectio Divina comunitária e, em certos momentos, as refeições de confraternização.
A Congregação Camaldolense no Brasil
Foi D. Emílio Pignoli, bispo de Mogi das Cruzes – SP, quem pediu à congregação camaldolense italiana que viesse para sua diocese, inspirado pela presença do monge eremita camaldolense, Pierantoni, que era reitor do Santuário de Bom Jesus desde 1979. A congregação aceitou o convite. E, em 1983 – 1984 chegaram os primeiros monges para construção do mosteiro masculino, finalizado e inaugurado em 1987.
Logo em seguida o convite foi estendido às monjas do Mosteiro de Santo Antão Abade de Roma. A madre abadessa Ildegarde Ghinassi e sua comunidade aceitaram o convite. Vindo ao Brasil para a escolha e compra do terreno, Madre Ildegarde considerou oportuno envolver também outros mosteiros camaldolenses femininos para a composição da nova comunidade. Foi assim que, no dia 18 de dezembro de 1992, partiram de Roma rumo ao Brasil as irmãs Paula Borelli, do Priorado de “Emmaus” (Itália), Maria Mhegele do Mosteiro de Mafinga (Tanzânia), e no início de 1993, Maura Aglioni do Mosteiro de Santo Antão Abade.
No ano de 1995 o Mosteiro ficou pronto e recebeu a benção solene. Em 1996, juntaram-se ao grupo as irmãs Paola Rizzi do Mosteiro de São Maglorio (Itália) e Donata Likiliwike do Mosteiro de Mafinga. Em 2002 chega mais uma irmã tanzaniana do mosteiro de Mafinga, Christina Chulla.
A pequena semente lançada com amor, dedicação, sacrifício e fidelidade de tantas irmãs camaldolenses e de toda congregação, deu seus frutos, com o nascimento de vocações brasileiras.
São Romualdo e o carisma camaldolense
Um dia, por volta do ano 1000, um homem de uma ilustre família de duques decide entrar em um mosteiro, lugar de oração e sobretudo penitência à época, para expiar a culpa de seu pai que havia assassinado em uma briga um parente seu.
Era um homem inquieto, intrépido e com um desejo imenso de acertar e colocar as coisas da vida, do mundo, e mais tarde da igreja, em ordem. Era sério, radical, mas também um homem que amava a beleza da natureza e tinha em grande conta a vida humana. Alguns dos seus amigos o descreveram como um homem muito amável, às vezes excêntrico, ora brincalhão, ora contestador, que amava o paradoxo e buscava frequentemente resolver as contradições unindo-as dentro de si.
Era um homem de Deus, e amigo de Deus. Chamava-se Romualdo. Nasceu na cidade italiana de Ravena. E ali, logo após ter presenciado o assassinato cometido por seu pai, entra no mosteiro de Santo Apolinário em Classe.
Logo, seu desejo de justiça, sua honestidade e seriedade, incomodam os monges que já nessa época viviam de modo relaxado, e de certa maneira, sem um empenho espiritual sério, após 4 séculos do tempo em que a Regra de São Bento havia dado ordem e estrutura à vida monástica. Romualdo se confronta com eles e o resultado é que conspiram para empurrá-lo de um lugar alto do mosteiro e matá-lo, mas Romualdo é avisado e deixa o mosteiro com o consentimento do abade.
Romualdo segue sua busca de Deus indo procurar um duro eremita que lhe inicia na vida eremítica. Sua vida será sempre de peregrino, feita de encontro com outros monges, estudo dos textos do monaquismo antigo, daí a síntese que ele elabora da vida monástica, construindo de pequenos mosteiros e eremitérios.
Romualdo era assim um homem sempre em busca, que foi capaz de harmonizar várias formas de vida monástica, sendo reconhecido pelo seu equilíbrio e suas admoestações contra os excessos de qualquer tipo na vida ascética e de oração. O pluralismo de sua proposta monástica revela-se hoje como um fruto surpreendentemente novo e em consonância à eclesiologia do Concílio Vaticano II.
Até o presente Camaldoli, no alto das montanhas dos Apeninos italianos, de onde vem o nome dos monges camaldolenses é organizada como uma única comunidade monástica, composta de um mosteiro onde se vive a vida cenobítica, e um eremitério. Tendo cada monge a liberdade de aproveitar destas duas realidades em vista de experiências temporárias ou definitivas de acordo com o chamado de Deus e o discernimento do prior.
Aos eremitas do seu tempo, que viviam sem regra de vida nem vínculo de obediência, oferece o modelo do eremitério onde a base da vida permanece na Regra de São Bento e na obediência ao prior, enquanto aos monges dos grandes mosteiros onerados de tantos pesadelos organizativos, oferece a simplicidade da pequena comunidade do eremitério.
O eremitério de Romualdo torna-se o herdeiro no ocidente da antiga forma da “lavra” do monaquismo do oriente médio, quase uma pequena aldeia de monges animada por um pai espiritual, e que tem no edifício da igreja o centro espiritual e estrutural das habitações dos monges.
Esta configuração é selada, pela primeira vez, nas Constituições das monjas camaldolenses em 1989 como paradigma da vida monástica camaldolense e dois anos depois também inserida naquela dos monges como se segue:
O elemento característico da tradição camaldolense é a unidade da família monástica no triplo bem cenóbio-solidão evangelização. Três são os bens para aqueles que procuram o caminho do Senhor: para os noviços que vêm do mundo, o desejável cenóbio; para os maduros sedentos de Deus, a áurea solidão do eremitério; enfim, para aqueles que anseiam dissolver-se e estar com Cristo, o anúncio do evangelho.